sexta-feira, 21 de maio de 2010

Jorge Schweitzer, o Taxista Nostradamus...

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Ano de 2084...

Animais evoluirão tanto que se materializará a ficção de George Orwell: “A Revolução dos Bichos”...

Ao invés de porcos na política - como no original - teremos alguns cachorros Ministros em postos chaves, além de Presidente, Senadores e Deputados, se é que já não temos sem termos tido a percepção de identificá-los...

Luiza Mel será uma espécie de Koff Anan loira e idosíssima; uma líder chorona e carismática mundial agora defendendo humanos, já que a cachorrada tomou conta do pedaço e de seu espaço na TV...

Fofoqueiros de plantão insinuarão qual espécie estará cruzando com quem no hight society...

Vera Loyola terá um monumento-obelisco, na Presidente Vargas com Rio Branco graças a seu gesto pioneiro, no século passado, de dar festa de aniversário para, até então, caninos analfabetos...

Nossos cachorros e papagaios nos levarão para passear e fazer cocô na praça...

Nossas tardes de domingo na TV serão animadas por hienas apresentadores: uma obesa, com ridícula camisa colorida amarrada acima do umbigo e relógio de camelô, que não deixa ninguém falar, elogiando – tanto no pessoal quanto no profissional – as qualidades do atores do National Geographic enquanto, noutro canal, a hiena de pelugem aloirada nos proporcionará a dança da bundinha das elefantas sexys...

Nas favelas haverá tráfico de “bonzo” alucinógeno vindos da Colômbia e Bolívia...

O Globo Rural substituirá o Jornal Nacional com picos de audiência...

Os Marinhos, ao conseguirem provar que sua árvore genealógica origina-se em reino life de bom pedigree, permanecerão com o monopólio das comunicações por gratidão e por continuarem tendo afinidades e bom trânsito no mundo animal...

Nossos melhores golfinhos amestrados serão adquiridos por raposas espanholas para disputar o campeonato que depois nos será vendido para ser transmitido por per-per-view...

Ursos homofóbicos de cabeça raspada perseguirão minorias...

Humanos serão cerceados de expressão, com leis rigorosas proibindo acesso a Internet somente permitindo sua circulação em vias públicas com luvas de boxe para evitar contato com teclados ou mouses...

A Playboy se adaptará aos novos tempos e terá encartes de poodles raspadas...

Rootweillers desmunhecados estamparão a “G Magazine” que passará se chamar “C”...

Viraremos vendedores ambulantes negociando brinquedos eletrônicos para animais-filhotes fabricados por escravos chineses penalizados por terem passado a vida inteira degustando cachorros grelhados...

Eu - que não sou bobo nem nada - vou começar a escrever sobre as qualidades da nossa fauna e transportá-los com carinho, em meu táxi, para garantir meu futuro...

Né não?



Jorge Schweitzer



texto escrito em 2006 para o Overmundo





Um comentário:

  1. Falando em bichos mandando e Nostradamus, vale lembrar que foi uma pulguinha de rato que dizimou metade da população européia na idade média! Pra lá de 100 milhões de pessoas.

    No século XX, esse número equivale às mortes em guerras, ou seja, os seres humanos resolveram fazer o serviço sujo sem precisar das pulguinhas. E vamos e venhamos, revoluções com líderes corruptos não são páreo para as amenidades da vida contemporânea.
    Eu assisto ao mundo passando diante de mim.

    Só posso concluir que os bichos, seja os de Orwell, ou os da fazenda do titio, perderam o trem da história. Nós os vencemos e os extinguimos. Por isso aconselho que todos os elogios e agrados sejam feitos não aos bichinhos, mas a esses senhores poderosos chamados computadores, aos iPods da vida, aos micro-ondas, ou até mesmo à velha televisão e aos radinhos de pilha. Da próxima vez que eu ligar o DVD vou perguntar se está tudo bem e se não faz mal que eu assista um filme. Eles é que nos observam agora. Eles são barra pesada, espera e verá. Em 2084 "estaremos" trabalhando pra eles. Só espero que não dê saudades da pulguinha do rato...
    Saudações!
    Otávio

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