terça-feira, 22 de março de 2011

Hoje escutei do pai de Rodrigo Yamawaki Aguilar Roig: 'Quando meu filho morreu pensei em me matar"... Desmoronei...

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Isto É, número 2204, 08 de março de 2008


O garoto que queria estudar

Rodrigo Yamawaki Aguilar Roig, seis anos, estava muito feliz porque iria aprender a ler e escrever.

Antes de as aulas começarem, ele passou horas sentadinho no seu quarto colando adesivos nos cadernos que ganhara.

O resto do material escolar já estava dentro da mochila nova e o clima prenunciava um grande acontecimento, o que não acontecerá mais.

O menino que estava tão animado para entrar no mundo das letras morreu justamente na sua primeira semana de aula.

Na terça-feira 19 de fevereiro, Rodrigo reclamou de cansaço e sonolência.

Os pais, Marcos e Glória, o levaram a uma clínica particular do bairro em que moram, na Penha, subúrbio do Rio.

Foram informados de que o filho tinha rinite crônica.

Dois dias depois, a criança piorou e foi levada para outra clínica, que, enfim, deu o diagnóstico de dengue - mas mandou-o de volta para casa.

No quarto dia, já em desespero, os pais procuraram outra emergência pediátrica.

Tiveram que pegar uma senha e esperar o atendimento.
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O pequeno Rodrigo não agüentou e desmaiou.
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Nas mãos do médico, teve a primeira parada cardíaca.
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Horas depois, morreu por falência múltipla dos órgãos, causada por dengue hemorrágica.

Era o dia 22 de fevereiro.

A data marca um futuro que não vai existir.
Rodrigo não ganhou tantas medalhas no judô quanto poderia e nem viu seu Botafogo entrar no estádio do Engenhão, no Rio, como sonhara.

O menino de olhar curioso não chegará a ser "consertador", a profissão que tinha escolhido por admirar o trabalho do pai, eletrotécnico.

"Ele era a minha sombra, queria as mesmas coisas que eu", lembra Marcos.

A alegre casa da família agora soterra a todos com lembranças dolorosas.

"Os piores momentos são os das refeições", diz Glória.

Ela era recompensada com abraços nas pernas dados pelo filho quando o prato era frango ensopado.

As irmãs, Luiza, quatro anos, e Yasmin, dez, que dividiam o quarto com Rodrigo, estão dormindo em colchonetes perto dos pais.

Ninguém teve coragem, ainda, de mexer no que ele deixou.
Exceto Marcos, por um motivo especial.

Ele botou no pequeno caixão do filho algumas medalhas de judô, o boneco Ben10, que ele tanto amava, e a blusinha preferida com o escudo do Botafogo.

Ainda destroçado, Marcos parte para outro tipo de ação: processará as clínicas a que recorreu e pretende entrar com uma notícia-crime na Justiça responsabilizando a União pela morte de Rodrigo.

No mais, a família mantém o único direito que restou: chorar pelo que é incompreensível, inenarrável e indefensável.



PS: Marcos, pai de Rodrigo, canalizou sua dor em prol de divulgar e executar ações de esclarecimento sobre a doença que levou seu filho... Escutei seu relato emocionado hoje na BandNews e sua briga na Justiça para responsabilizar médicos que atenderam Rodrigo... JS
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Um comentário:

  1. Sei que palavras não servem de consolo para a dor do pai de Rodrigo Yamawaki Aguilar Roig.

    O que a gente vê é que, num país como o nosso, muitas vezes os heróis são crianças como o Rodrigo, o João Hélio, a pequena Joanna Marcenal e tantos outros pequenos heróis de coração gigante.

    Essas crianças deveriam estar vivas e sorridentes. Deveriam estar fazendo o que mais sabem fazer que é transmitir alegria e amor. Mas nosso país é uma terra de violência, de incompetência, de desrespeito, de ignorância. Esses pequenos brasileiros são os que mais sofrem com isso.

    Eles não pediram pra ser heróis. Viraram heróis na medida em que familiares cobram por justiça. Essa cobrança por justiça não trará seus filhos de volta, mas ajudará que outras crianças não sofram o que sofreram. Essas crianças que se vão prematuramente, vítimas da violência e da incompetência, tornam-se os pilares para novos rumos e novas esperanças.

    Parece ser um caminho muito mais longo e penoso do que gostaríamos, mas ainda tenho esperança que um dia a sociedade brasileira garantirá a segurança de nossas crianças. Precisamos melhorar muito.

    Otávio

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