domingo, 21 de agosto de 2011

Die Blechtrommel








Não gosto do silêncio...

O primeiro brinquedo que ganhei na infância foi um tambor...

Esmurrei com a baqueta até furar...

A família deu graças...

Os vizinhos, hosana nas alturas...

Certo dia os postes de madeira da minha rua estavam para ser trocados...

A prefeitura fez buracos ao lado dos antigos para após retornarem com novos...

Choveu...

Descobri o som maravilhoso das pedras que eu arremessava naquela água até a borda...

Cataplum...

O barulho oco da pedra antes de sumir deixando um círculo perfeito em torno...

A terra era de tabatinga vermelha e as formigas bundudas sumiram para outras paragens ao sol não mais esborrachar novas fendas para passearem...

Durante semanas chuvosas eu retornava a cada manhã para além do meu portão...

Acordava e sentava ao lado do poço providenciado pelo poder público que não retornava para concluir...

Cataplum, cataplum...

Finalmente - algum dia de arco íris com uma caçarola de ouro no extremo direito - chegaram os postes na caçamba de um caminhão Fenemê que de tão grande preenchia minha imaginação a cobrir a rua inteira até as coxilhas envoltas por nuvens de algodão...

Fincaram postes novos na rua inteira...

Menos em frente a casa onde eu morava...

Impossível, o buraco estava com pedras até a borda...

Quando descobriram que era brincadeira de um menino maluco de quatro anos de idade virou piada na rua...

Tiveram que fazer outro buraco poço ao lado...

A rua inteira ficou as escuras por minha causa...

Nas noites seguintes a cada vez que eu teimava em não dormir meus pais ameaçavam com pessoal do Fenemê da CEEE no portão como Homem do Saco que rapta criancinhas e entrega para ciganos....

Juro que até sonhava em morar em barracas imensas e ter a liberdade plena daquelas crianças que corriam entre moças de colares de ouro, grandes brincos de argolas e saias vermelhas rodadas sem jamais serem repreendidas...

Mas...

Tinha que ficar calado até adormecer...

Em tempos de silêncio e solidão bate angústia enorme...

Prefiro o som do meu tambor...




Jorge Schweitzer






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