segunda-feira, 2 de abril de 2012

Jorge Schweitzer e a Lei da Consequência




A Lei do Retorno na física é conhecida como o princípio de Newton...

Onde a lei da ação é uma força que ocasiona contrária reação igual e correspondente...

Prefiro acreditar que diretamente oposta...

Sou exemplo vivo das causas e efeitos da tal lei do retorno que prefiro em letras mínúsculas...

Querem ver?

Vou contar alguns episódios não atendendo a pregação do Millôr que dizia que jamais devemos narrar uma mentira que não possamos comprovar...

Juro que é verdade!

Foi há cerca de três anos...

Contei por aqui na época...

Eu passava em frente aquela padaria da esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com Rua Siqueira Campos...

Dizem que ali tem o melhor pão de Copacabana, mas acredito que o do Pão de Açucar, quase em frente ao Horti-Fruti ou o da padaria do posto de gasolina na subida da Assis Brasil (onde o aquele poeta famoso, putz esqueci o nome, mas tem uns 70 anos e usa o mesmo cabelo escorrido de sempre e vai lá comprar bisnagas e acho que mora na Ministro Viveiros de Castro - se alguém souber o nome me avive por favor) é melhor...

Pôs bueno, já estou me desviando do assunto...

Retornemos à cena:

Uma senhora com pacote de pão debaixo do braço faz sinal esbaforida pronunciando aquela frase clássica de filmes americanos preto e branco da década de 60:

- Siga aquele carro!

- Hein?

- Aquele vermelho, é meu! Foi roubado!

Avanço o sinal vermelho e atravesso meu táxi na frente do tal Fiat Prêmio antigo ao lado do Banco Itaú...

Como sou mais sortudo que o Gastão...

Do lado contrário na rua, na Praça Serzedelo Correa (que chamávamos de Praça dos Paraíbas antes de ser politicamente incorreto) posicionado um gol patrulha azul e branco da PM que saltam já com armas na mão após meu movimento de cantar pneus...

Por instantes receio que a tal senhora passageira poderia estar caçando o sujeito por algum desconforto de separação conjugal...

Que nada, era verdade da dona...

Saca da bolsa os documentos do Prêmio vermelho sem seguro e o registro do roubo ocorrido há mais de ano...

O cidadão que conduzia o veículo roubado não era o ladrão, havia comprado o veículo e não transferido documentação sem cuidado de checar já que certamente o larápio ofereceu uma pechincha rápida...

Foram todos para 12a. DP...

Ela me agradece e pergunta quanto me deve...

- Nada!

Imagine se eu iria ligar o taxímetro no meio de um troço destes...

- Faço questão de lhe recompensar, este carro é muito importante prá mim...

- Negativo!

Anoto número da placa e repasso para um vizinho que arrisca no jogo do bicho mais que o Stepan Nercessian...

A milhar não é sorteada...

E...

Um mês depois...

Recebo a multa de 207 reais com direito a foto do pardal da Siqueira Campos flagrando meu táxi atravessado incompreensívelmente na Avenida Copacabana...

O que é isto?

A Lei do Retorno...

Hoje...

Presenciei um mendigo em final de estágio delirante como último elo da felicidade que o cotidiano pode premiar...

Ele já não pedia mais nada...

Estava quieto e roto...

Alcoolizado pela desgraça como herança...


Alojado ali na saída do túnel que desemboca na Rua do Riachuelo no terreno vizinho de onde era o jornal O Dia...

Estava todo molhado parecendo ter tomado banho naquele cano solto há anos dentro do tal túnel...

Com o trânsito travado tive oportunidade de lhe arremessar duas moedas de um real que ele reconheceu o tilintar na calçada...

Se levantou ágil olhando na minha direção...

Amassei uma nota de vinte reais e joguei...

Procurei ver sua reação pelo retrovisor antes de entrar na Henrique Valladares...

Não consegui...

Nem interessa...

Por alguns instantes ele deve ter tido a sensação que nem tudo está perdido...

Duas moedas lhe dariam apenas mais dois goles de cachaça...

Com vinte fará planos mirabolantes com um tonel de pinga barata a lhe anestesiar sonhos de mentira...

Volta e meia dou vinte reais para algum mendigo aleatório...

Nunca para um com planejada cara de coitado ou me chamando de 'tio'...

Daí?

Passei duas horas inteiras sem conseguir um passageiro sequer...

Parecia que eu estava invisível...

É a Lei do Retorno!

Eu ia contar mais um episódio...

Deixa prá lá!





Jorge Schweitzer





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