terça-feira, 14 de agosto de 2012

Denise Leitão Rocha demitida por vídeo de sexo: "Tem coisa muito pior que acontece na Casa Legislativa"






por Fábio Góis


Há até poucos dias, quem chegava ao Senado por um dos dois acessos do “túnel do tempo”, corredor que liga gabinetes ao plenário, poderia deparar, nos arredores do gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), com uma loira bem vestida, de semblante sério, quase sempre ao celular. Cabelos lisos e longos, 1,70 de altura, braços e pernas musculosas, mas não masculinizadas, a mulher invariavelmente deixava o gabinete 01 da Ala Teotônio Vilela sem olhar para os lados, em postura de sisudez que servia como mecanismo de defesa contra abordagens indesejadas.


Desde a instalação da CPI do Cachoeira, em 25 de abril, a tal mulher de pouca conversa passou a circular em uma área maior àquela contígua ao gabinete de Ciro Nogueira, quarto-secretário do Senado e membro da comissão de inquérito. Sem a sua autorização, a publicação de um vídeo de sexo, no qual Denise é protagonista, fez com que ruíssem todas precauções que a advogada de 28 anos usava para ter controle de sua vida íntima. Assistido por parlamentares e jornalistas que acompanham a CPI do Cachoeira, o vídeo fez com que Denise ganhasse a alcunha de “furacão” ou “musa da CPI” – com esta última, comparada à também loira Andressa Mendonça, namorada do contraventor que dá nome à comissão de inquérito, Carlos Cachoeira.

Exposta de forma vil, Denise nada ganhou com isso, a não ser a companhia de fortes calmantes, sem os quais já não consegue mais dormir, e a sensação de que, aos olhos de todos, está sempre despida. Para completar, vítima de um moralismo que não compreende, Denise foi demitida, perdeu o emprego que tinha como assessora de Ciro Nogueira. O senador encarregou assessores de comunicar a Denise sua exoneração.

Sensação de nudez

Desde o vazamento do vídeo, que Denise diz ter sido feito há cerca de seis anos – dois antes de ser contratada por Ciro Nogueira –, a advogada tem a vida revirada, exposta em telas, páginas e ondas sonoras Brasil afora. Fotos que ela postava no Facebook, de biquíni, tomaram ares de catálogo erótico. Telejornais chegaram a veicular cenas do tal filme de sexo, blogs e sites idem, imagens da advogada foram usadas à exaustão em reportagens ora mal intencionadas, ora eivadas de erros e falhas de apuração. Passando os dias dopada, em decorrência do estado de depressão a que chegou, Denise tem evitado dar declarações mais demoradas à imprensa.

Mas, por telefone, Denise aceitou falar ao Congresso em Foco mais detidamente, por duas vezes no transcorrer da última semana. Em outra ocasião, respondeu perguntas por e-mail. E, alternando momentos de desalento e saudosismo (ela diz que sua vida era o trabalho no Senado e os cuidados com a saúde), tentou definir como será, daqui para frente, sua relação com o universo parlamentar que a acolheu nos últimos quatro anos.

“Totalmente prejudicada. Eu vou passar, vão olhar… Eu vou cumprimentar os senadores, deputados, e vou achar que eles estão me vendo pelada. A impressão vai ser essa. Por isso estou indo ao psicólogo, ao psiquiatra. Estou tomando remédio e tudo…”, relata Denise, praticante de musculação e outras atividades físicas. O ex-namorado, as cenas de sexo, o falso moralismo de alguns colegas, o olhar enviesado de quem sabe quem ela é. E é com essa combinação deletéria, que pôs fim à sua incipiente trajetória no Parlamento, que Denise terá de lidar daqui em diante.

“Isso me desmoralizou, está acabando com a minha vida”, desabafa. Denise, porém, tem um alento: a esperança de que a sua história torne mais dura a legislação para quem divulga imagens íntimas de outras pessoas à sua revelia. “Do dia para a noite, vários deputados e senadores levantaram a bandeira. Mais de 70 projetos estão sendo discutidos por causa disso [divulgação de material particular em meio virtual]”. Logo, em seguida, porém, ela volta à sensação de profundo desconforto que a acompanha nos últimos dias. “Mas, no final das contas, quem é a exonerada? Isso vai continuar sendo discutido, a legislação sobre crimes cibernéticos vai continuar a ser discutida, mas eu sou a exonerada.”

Geni

Sobre a demissão, Denise lembra que recebeu apoio de parlamentares, amigos, servidores e até de gente desconhecida, por meio de mensagens na internet. Ela diz não entender por que Ciro Nogueira decidiu exonerá-la. “Não sei o que se passou na cabeça da pessoa, vendo que a opinião pública toda estava contra a demissão. Mesmo assim exonerou. Mas não posso dar um juízo de valor sobre ele”, lamenta a advogada, lembrando que, em um primeiro momento, o senador se disse “constrangido”, para depois mudar o posicionamento e dizer que Denise era “uma profissional excelente”.

Já sobre uma cirurgia recente da qual ainda convalesce, Denise diz que “não foi nada estético”, como se chegou a cogitar nas dependências do Senado. A ex-assessora disse ainda que aproveitou o início do recesso (17 a 31 de julho) para realizar a intervenção – a informação foi deturpada por alguns veículos de imprensa, diz Denise, que associaram seu afastamento ao vídeo de sexo. Por esse raciocínio, ela teria obtido com o vídeo notoriedade, e estaria fazendo uma reparação estética para posar para uma revista masculina. “Não se brinca assim com a saúde dos outros”, protesta ela. “Porque se fosse de mãe, filho etc, ninguém, brincaria.”

Com a saúde abalada mental e fisicamente, Denise sente-se apedrejada como a Geni da canção de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”. Ajuizou ação para responsabilizar quem vazou o vídeo, diz ter perdido cinco quilos, evita o pior tipo das aparições públicas – aquele sob o olhar condenatório de quem nada tem a ver com a sua vida. Caseira, como ela mesma se define, vai buscar na família e nos amigos de fato o amparo que não teve no gabinete do Senado.

Enquanto isso, a CPI do Cachoeira não avança, deputados envolvidos com o caso não deverão ser punidos, e o julgamento do mensalão acontece no Supremo Tribunal Federal sem merecer maiores atenções por parte da maioria da população. “Criticam [o ato sexual]. Mas como é que todo mundo veio ao mundo? Tem coisa muito pior que acontece na Casa legislativa…”, comenta ela. É como na canção de Chico Buarque: “Ela se virou de lado, e tentou até sorrir / Mas logo raiou o dia, e a cidade em cantoria não deixou ela dormir".

...

Quem divulgou o vídeo? E com que intenção?

Com várias intenções, e isso está tudo no processo. Pode ter mais de um [culpado pelo vazamento]. Quem está nos autos eu não posso falar, porque o processo está em segredo de Justiça. Só o que eu posso falar: quem foi espalhar isso no Senado? Tem que chegar ao computador de quem espalhou. Está nas mãos do Senado. Por isso não posso falar que foi só o meu ex-namorado. Pode ter sido o meu ex e mais alguém – que se chamam co-autores do crime.

Como você interpreta tudo o que aconteceu depois da exibição do vídeo e da consequente exoneração?

Eu fico pensando… Como é que cada um que fala [critica] veio ao mundo? Todos criticam [o ato sexual], mas a gente está aqui como? ET? Cegonha? Só no Brasil mesmo… Agora, quanto aos escândalos de corrupção, está todo mundo lá [no Congresso], eles não vão ser cassados. É o poder, não é? Poder entre aspas – porque isso para mim não é poder, tem outro nome.

Como advogada, o que você espera do processo que move sobre o episódio do vazamento do vídeo? Há processo contra a exoneração no Senado?

Espero que tudo seja logo esclarecido para toda a sociedade. O processo pode demorar. Porém, na minha consciência, ele já esta esclarecido há muito tempo. Com relação ao Senado, não sei de onde tiraram que eu iria processar a Casa… O cargo em que eu estava lotada era de confiança, portanto, demissível ad nutum [decisão de livre arbítrio do autor, sem exigência de formalidade ou amparo legal para justificá-la].

Por falar em Senado, como você vê o Parlamento atual? Câmara e Senado ainda são instituições moralistas?

Temos muitos parlamentares sérios, sim, e que realmente se dedicam às bandeiras que abraçam no exercício do seu mandato. Com relação ao ocorrido comigo, tem coisa muito pior que acontece na Casa legislativa e não dá em nada. Acho melhor não me alongar sobre vários episódios já notoriamente conhecidos.

Diante da reviravolta em sua vida, e como ex-assessora de um senador em uma comissão parlamentar mista de inquérito, como você vai passar a lidar com a atividade parlamentar? Como está sua relação com esse mundo?

Totalmente prejudicada. Eu vou passar, vão olhar… Eu vou cumprimentar os senadores, deputados, e vou achar que eles estão me vendo pelada. A impressão vai ser essa. Por isso estou indo ao psicólogo, ao psiquiatra. Estou tomando remédio e tudo…

A imprensa te ajudou ou prejudicou com o noticiamento do caso?

No início, dei minha palavra de que não falaria com a imprensa, e fui bombardeada – como a exemplo de que eu tinha feito [o vídeo de sexo] nas dependências do Senado, o que sabemos não ser verdade. Ou falarem como se fosse algo recente e no exercício do cargo [de assessora parlamentar], sendo que o mal [a divulgação do vídeo] foi feito há seis anos. Obviamente, eu estava ainda em início de faculdade, e muito mais jovem. Porém, não os julgo [membros da imprensa], pois estavam noticiando com o que tinham em mãos. Hoje, já mais informados, entenderam a minha situação.

O Congresso em Foco não publicou uma linha até a formalização da sua exoneração, não achamos que a vida pessoal de uma servidora do Senado seja notícia…

Realmente, não vi nenhuma nota de vocês [sobre o vídeo de sexo]. Acompanho o trabalho de vocês. Eu o acho sério, no sentido de não abaixarem a cabeça por causa de senador, deputado. Vocês vão para a linha de frente, mesmo.

O que você espera fazer daqui em diante, profissionalmente falando?

Entreguei a Deus. Ele sabe o que é melhor para mim, sabe quem fez isso comigo e o coração que tenho.

Como você pretende lidar com a superexposição de sua imagem? O fato de você ser uma mulher bonita pode atrapalhar ou ajudar na busca por um espaço no mercado de trabalho?

Sempre atrapalhou. Muita gente não consegue assimilar uma mulher bonita, inteligente, advogada, que ama trabalhar, porém gosta de se cuidar, como todas as mulheres – melhor que muitas pessoas hipócritas, que não se cuidam mas se drogam de todas as formas. Desde quando cuidar de você, da sua saúde, virou crime?

Como sua família tem lidado com essa situação? O que você tem feito para esquecer o episódio?

Minha família está sofrendo demais, mas sabem quem fez a maldade, que irá pagar por isso. Quanto a mim, tento esquecer, pois não sou nenhuma criminosa. Vou ao médico, psiquiatra, psicólogo, mas não consigo [esquecer o que aconteceu] ainda…

Que recado deixaria para quem te “condenou” depois da exibição do vídeo?

Para não julgar sem saber o que realmente acontece… O processo chegará ao fim, e eu estarei lá com o meu Deus, minha família e minha vida.





4 comentários:

  1. Ai meu Deus, quanto mais ela fala, mais besteira ela fala!
    Em boca fechada nao entra mosquito, moca!!!

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  2. Pois é quando a cabeça não pensa...
    O corpo padece...

    Eu fico pensando… Como é que cada um que fala [critica] veio ao mundo? Todos criticam [o ato sexual], mas a gente está aqui como? ET? Cegonha? Só no Brasil mesmo…


    Creio que não foi o ato em si o alvo da crítica. Sem dúvida a causa da nossa vinda ao mundo foi o ato sexual, com uma pequena diferença, nossos pais não filmaram esse ato para que víssemos posteriormente como esse evento ocorre.

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  3. Pois é quando a cabeça não pensa...
    O corpo padece...

    "Eu fico pensando… Como é que cada um que fala [critica] veio ao mundo? Todos criticam [o ato sexual], mas a gente está aqui como? ET? Cegonha? Só no Brasil mesmo…"


    Creio que não foi o ato em si o alvo da crítica. Sem dúvida a causa da nossa vinda ao mundo foi o ato sexual,com uma pequena diferença, nossos pais não filmaram esse ato para que víssemos posteriormente como esse evento ocorre.

    MD

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