sábado, 22 de setembro de 2012

O Cara Estranho



Pô,  tu não me lê mesmo... Sem problemas... Eu só passei a existir após te conhecer... 








Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem
Olha ali, quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber?
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer
Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir.

Ainda há pouco estive conversando com meu filho...

A gente morre de rir com nossas palhaçadas...

Quase nunca falamos sério...

Tempo desses conversamos sobre eu deixá-lo em segundo plano nestas escaramuças do blog...

- Pai, faz o que você acha que deva! Quero que você seja feliz.

Acho que lembrou da minha leitura agnóstica da epístola  do Novo Testamento de Tiago que lhe ensinei sobre ser...

A primeira vez que o vi me apaixonei para sempre...

Seus olhos de um azul total...

Depois foi trocando de cor...

Todo pai acha que seu filho é o mais bonito do mundo...

Ele era tão que me incomodava como alguém assim me achava seu herói perfeito...

Meu filho dormia agarrado no meu pescoço nos verões com eu suando bicas...

Me queria o tempo todo...

Eu morava num pequeno apartamento duplex com escadaria num prédio projetado pelo Oscar Neimeyer...

Levava-o até o banheiro acima esfregando a sola de seu minúsculo pé na parede da escadaria de madeira...

Ligava e apagava o interruptor com seu pequeno dedão fingindo dormir...

Aquilo era uma viagem...

Retornava para dormir sem me largar...

Adormecia com seu hálito na minha cara...

Acho que se fechar os olhos hoje ainda consigo sentir...

Quando completou idade de entender nosso imenso amor resolveu morar comigo ainda menino...

Foi a maior viagem de todas nossas vidas...

Kramer vs Kramer real sem disputa judicial...

Não houve motivação, reação ou controvérsia...

Necessitávamos estar juntos ...

E pronto...

Lembro que a avó dele chorava ao nos visitar em Copacabana com apartamento meio que assim, vá lá, bagunçado:

- Como me dói ver dois homens sem uma mulher para cuidar...

E a gente feliz em nossa zona...

Colegas dele passavam por lá o tempo todo...

Eu comentava que parecia a casa do Michel Jackson e se eles não se comportassem eu os comeria todos...

Na realidade estes babaquinhas não me respeitavam e me sacaneavam quando eu passava para o cômodo ao lado para tentar dormir enquanto faziam brigadeiro na cozinha...

Uns otários maravilhosos em miniatura...

Ficavam a noite inteira no game e os pais dos adolescentes ligando o tempo todo na monitoração e eu emborcado no sono...

Volta e meia algum deles me acordava para confirmar ao telefone que estava tudo sob controle...

O refúgio perfeito sem nenhuma mulher para dar ordens...

Lembro de uma semana inteira que, acho que o Leozinho, passou férias por lá e pintamos de pasta de dente sua testa que só descobriu ao acordar...

Lembro da despedida do menino dizendo que foi o melhor período de sua vida e tive que segurar a emoção lhe dando um cascudo de mentira...

Chega...

Tenho um monte de recordações como num filme bom...

Sou um cara meio estranho mesmo...

Te amo, filho...

Teu pai...




Jorge Schweitzer








2 comentários:


  1. Descobri que existe então alguma coisa, sempre movida em um movimento sem repouso.
    "Taxi em movimento"



    Vou senti muita falta disso aqui...
    O conhecimento me chama...
    Falando nisso onde andará os velhos passageiros, digo leitores do taxi.

    Sempre que puder darei uma passadinha...

    ResponderExcluir
  2. Descobri que existe então alguma coisa, sempre movida em um movimento sem repouso.
    "Taxi em movimento"



    Vou senti muita falta disso aqui...
    O conhecimento me chama...
    Falando nisso onde andará os velhos passageiros, digo leitores do taxi.

    Sempre que puder darei uma passadinha...
    Marinalva

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