sábado, 6 de outubro de 2012

Blogueira Yoani Sánchez fala de sua detenção em Cuba




Rumpelstiltskin

Imagen de Anna-Kafka. Tomada de devianart.com
Rumpelstiltskin, por Anna-Kafka. Tomada de devianart.com
El sudor de aquellas tres mujeres que me metieron en un auto policial aún lo tengo pegado en la piel y bien adentro en las fosas nasales. Grandes, corpulentas, implacables, me llevaron hacia aquel cuarto donde no había ventanas y el deshecho ventilador sólo echaba fresco hacia ellas. Una me miraba con especial sorna. A lo mejor mi rostro le recordaba a alguien en el pasado: una adversaria en la escuela, una madre despótica, una amante perdida. No sé. Lo que sí recuerdo es que, en la tarde del 5 de octubre, su mirada quería destruirme. Fue ella la que hurgó bajo mi saya con mayor deleite, mientras otras dos uniformadas me agarraban para hacerme la “requisa”. Más que buscar algún objeto escondido, esa revisión perseguía el objetivo de dejarme con una sensación de violación, de indefensión, de estupro.
Cada seis horas cambiaban a mis guardianas. En el turno de la medianoche se notaban menos estrictas, pero yo me encerré en mi mutismo y nunca respondí a sus preguntas. Me evadí en mí misma. Opté por decirme: “me han quitado todo, hasta la hebilla para sujetarme la melena, pero –ridículos requisadores- no han podido arrebatarme mi mundo interior”. Así que decidí refugiarme, durante las largas horas de un encierro ilegal, en lo único que tenía: mis recuerdos. La habitación quería parecer ordenada y limpia, pero cada cosa llevaba su dosis de suciedad o rotura. El piso de lozas de granito claro venía cubierto de una buena dosis de mugre acumulada. Me quedé mirando las figuras que conformaban las pequeñas piedrecitas fundidas en cada baldosa y los pegotes de suciedad. Después de un rato, de aquella constelación saltaban los rostros. Los personajes afloraban en el suelo tosco de mi calabozo del Departamento de Instrucción de Bayamo.
Allá brotaba el larguirucho semblante del Quijote, mientras en esta esquina alcancé a ver el sencillo perfil del Loquito de Abela. Unos ojos oblicuos, formados con la argamasa y la gravilla, se parecían increíblemente a los de la protagonista del filme Avatar. Yo me reía y mis perennes vigilantes empezaban a creer que mi negativa a probar alimentos o agua me estaba friendo literalmente el cerebro. Atisbé en el irregular granito al Jorobado de Notre Dame y a la esbelta figura de Gandalf, con báculo y todo. Pero por sobre todas aquellas formas que brotaban de tan tosco pavimento había una –más intensa- que parecía brincar y reírse frente a mis ojos. Quizás era el efecto de la sed o el hambre, la verdad es que no sé. Un enano de barba larga y mirada cínica se burlaba pícaramente.
Era Rumpelstiltskin, el protagonista de un cuento infantil donde la reina está obligada a adivinar su complicado nombre o de lo contrario deberá entregar al despótico enano su posesión más preciada: su propio hijo. ¿Qué hacía aquel personaje en medio de mi encierro temporal? ¿Por qué lo veía a él por encima de otras tantas referencias visuales que he acumulado en mi vida? La respuesta la intuí inmediatamente. “Eres Rumpelstiltskin”, le dije en voz alta y mis cancerberas me miraron preocupadas. “Eres Rumpelstiltskin –repetí- y sé cómo te llamas”. “Eres como las dictaduras, que una vez que uno empieza a llamarlas por su nombre, es como si comenzara a destruirlas”.



Ainda levo na pele e bem dentro das fossas nasais o suor daquelas três mulheres que me enfiaram num carro da polícia. Grandes, corpulentas, implacáveis, levaram-me até aquele quarto onde não havia janelas e o ventilador desfeito apenas jogava frescor até elas. Uma me olhava com especial ironia. Na melhor hipótese meu rosto lhe recordava alguém do passado: uma adversária na escola, uma mãe despótica ou uma amante perdida. Não sei. O que lembro é que, na tarde de 5 de outubro, seu olhar queria me destruir. Foi ela que apalpou sob minha saia com grande prazer, enquanto outras duas uniformizadas me agarravam para cumprirem a “exigência”. Mais do que buscar algum objeto escondido, essa busca perseguia o objetivo de me deixar com uma sensação de violação, de impotência e de estupro.
A cada seis horas trocavam minhas guardiãs. No turno da meia noite mostravam-se menos rígidas, porém eu me encerrei num mutismo e nunca respondi as suas perguntas. Fugi de mim mesma. Optei por dizer a mim mesma: “tiraram-me tudo, até o grampo de cabelo, porém – revistadores ridículos – não puderam tomar meu mundo interior”. Desse modo que decidi me refugiar, durante as longas horas de uma detenção ilegal, no único que possuía: minhas lembranças. O aposento queria parecer limpo e ordenado, porém cada coisa tinha sua porção de sujeira ou ruptura. O chão de placas de granito claro estava coberto por uma boa dose de limo acumulado. Fiquei olhando as figuras formadas pelas pedrinhas fundidas em cada azulejo e nas manchas de sujeira.
Lá surgia o magro semblante de Quixote, enquanto em cada canto consegui ver o frágil perfil do Bobo de Abela. Uns olhos oblíquos formados pela argamassa e as pedrinhas se pareciam, incrivelmente, aos da protagonista do filme Avatar.  Eu ria e minhas vigilantes constantes começavam a acreditar que a minha negativa de provar alimentos ou água estava literalmente fritando o cérebro. Observei no granito irregular o Corcunda de Notre Dame e a figura esbelta de Gandalf, com báculo e tudo. Porém sobre todas aquelas formas que brotavam de tão tosco pavimento havia uma – mais intensa – que parecia brincar e se rir frente aos meus olhos. Talvez fosse o efeito da sede ou fome, a verdade é que não sei. Um anão de barba comprida e olhar cínico gracejava de maneira astuciosa.
Era Rumpelstiltskin, o protagonista de um conto infantil onde a rainha é obrigada a adivinhar seu nome complicado, pois do contrário deveria entregar ao anão despótico sua mais apreciada posse: seu próprio filho. O que aquele personagem fazia no meio da minha detenção temporária? Por que o via por cima de tantas outras referências visuais que acumulei na minha vida? Intuí a resposta imediatamente. “És Rumpelstiltskin, disse-lhe em voz alta e as minhas carcereiras me olharam preocupadas. “És Rumpelstiltskin – repeti – e sei como te chamas”. “És como as ditaduras que uma vez que alguém começa a chamá-las pelo seu nome, é como se começasse a destruí-las”.





PS: Yoani é um símbolo importante da resistência sob qualquer risco... Esta moça chegava a ficar 6 horas em filas de cybercafés em Havana para postar um único texto... Quando vejo pessoas que poderiam simplesmente estender o braço e teclar no computador ao seu lado para ecoar o grito dos inocentes e nada fazem me dá uma certa agonia... Se Che vivo fosse teria orgulho de Yoani... Foi prometido um encontro meu com a filha de Che que ainda não ocorreu... Certamente irei lhe perguntar o que ela acha de Yoani Sanches... Jorge Schweitzer





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