domingo, 18 de novembro de 2012

O Maldito Anjo Gauche Importado






Um homem prostrado e desacordado na frente de um triciclo e ninguém o acode talvez por medo do sangue que ele  escorre...

Magro, cerca de trinta anos que o cruel destino deva parecer mais...

Exatamente na esquina da Mem de Sá com Inválidos...

Foi neste sábado, 17 de novembro de 2012, 15 horas e mais ou menos 30 minutos...

Não se mexia...

Bato em seu ombro...

Ele segura um maço de notas de cinquenta reais incompatíveis com sua condição rota de  sarjeta...

São destas notas novas misturadas com antigas de cinquenta...

Se fossem falsas seriam somente de uma forma...

Possui diversos machucados e nenhuma reação...

Para quem duvidar existe testemunho de um restaurante inteiro  de comida a peso em frente que me observam atrás da lente das vidraças fumadas e todos presenciaram a cena e podem confirmar que ninguém me ajudou, incluindo eles próprios...

Porra, não acredito que novamente estou numa destas...

Estou!

Seu joelho, ombro e mãos estão ensaguentadas como se houvesse tomado tombo e espancado...

Enquanto tento entender o que ocorre diversas pessoas param para observar querendo saber detalhes que não tenho explicação...

Depois de cerca de 20 transeuntes indagarem somente a saciar curiosidade prometo a mim mesmo mandar o próximo tomar naquele lugar...

Finalmente ele desperta após eu dar um tapa na sua cara...

Informo que ele deva recolocar o dinheiro no bolso para não ser roubado e ele me aponta a mão direita com as notas de cinquenta amassadas:

- Pode ficar com o dinheiro, é teu!

Seguro sua mão esquerda e consigo finalmente erguê-lo enquanto me suja de sangue de seus machucados...

Puta que o pariu!

Cambaleia...

Junto algumas notas no chão e devolvo...

Certamente ele tomará balão apagado de um próximo vivaldino pé de pato...

Imagino que seja algum  entregador de gelo ou bebidas de negócio de depósito mas a grana é incompatível...

Remexo o triciclo que só possui suas coisas pessoais tentando localizar se não assaltou alguém...

- Você roubou,  fumou zirrê, cheirou?

- Só estou perdido; só bebi; coisa de mulher; família; sou artista;  não sou mendigo; acabei de vender um quadro...

Avisa que está próximo de casa e quer continuar...

Volto para dentro do restaurante que acabei de almoçar para lavar as mãos enquanto todos me olham assombrados...

Alguns comensais inertes me informam que ele voltou a contar suas notas de cinquenta lá fora...

Pego um pequeno copo de café de plástico grátis após a refeição e empurro a porta giratória em direção a porcaria de confusão que passo vida inteira me esquivando...

O desgraçado  custa a me obedecer dar um único gole do café mesmo após ameaçá-lo lhe enfiar uma porrada no meio dos cornos....

Eu já estava resolvido a não mais ele atrapalhar minha vida...

Não mereço...

Mais uma pessoa pergunta o que está acontecendo e envio para a puta que pariu...

Pô, qualè?!

Por que querer saber o que ocorre se não quer fazer nada?

Na próximo vou passar batido...

Juro!

Devia ter aceitado todas suas notas de cinquenta e saído  fora...

Tenho a menor ideia porque estas porcarias  só acontecem comigo...

Entro na Rua do Rezende e retorno pela Praça João Pessoa e não o encontro mais...

Ainda bem...

Tem horas que meu anjo da guarda importado de merda resolve ficar de plantão sem me dar paz só para rir de mim a me testar...

Pô, chato meu!




Jorge Schweitzer






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