quarta-feira, 29 de maio de 2013

Perfume de Mulher











Foi num sábado de 2010...

Tentei assistir o Concurso Miss Brasil na Band... 

Apresentado por Otávio Mesquita... 

Bailarinos vestidos de branco dançam retorcendo o pescoço frenéticos com a bunda em riste tremelicante... 

Engraçado como mulheres sonham em casar com homem que adore dançar... 

E... 

Todos que dançam maravilhosamente são viados... 

Todos...

Não existe, na face da terra, um homem sequer que tenha um furacão nos quadris que seja firme... 

Fora Fred Astaire e Al Pacino, lógico... 

Deve haver alguma explicação científica na coordenação motora retentiva... 

Pôs bueno... 

Quando eu era adolescente - nem faz tanto tempo assim, jaz só simplórios 40 anos - o Brasil parava para acompanhar o Miss Brasil... 

Patrocínio dos maiôs Catalina e Esmalte 1010 Bozzano...

Lembram da voz do Luis Jatobá?

Então... 

Apresentação do Walter Forster... 

Neste  sábado... 

Não consegui acompanhar o Otávio Mesquita... 

É muito xarope... 

Só Mesquita ri das piadas do Otávio...

Mas quase morri de rir... 

Do Otávio? 

Não... 

É que lembrei... 

Há quatro anos... 

Cerca de 10 táxis foram parados na porta do Hotel Glória, que ainda estava em funcionamento antes do Eike começar suas inacabáveis obras movidas por nossa grana do BNDES... 

Eu era um desses dez, o último da fila... 

Em cada táxi eram embarcadas três candidatas à Miss Brasil... 

O destino era um evento no Hotel Windsor na Barra da Tijuca... 

 Cada mulher mais maravilhosa que a outra... 

Era um tal de desfilar de mulher linda entrando em trio nos táxis à minha frente... 

Nervoso, fiquei imaginando quais seriam os Estados que me seriam premiados... 

Amazonas, Rio Grande do Sul, do Norte...

Imaginei que daria um show descrevendo as maravilhas do Rio e contando histórias do Império para embevecimento de minhas ouvintes de lábios carmins e longos cílios encobrindo olhares marejados com meu conhecimento idiota... 

A fila da mulherada foi minguando... 

Minguando... 

E... 

Acabou! 

Exatamente na minha vez... 

Não sobrou sequer uma mulher para eu contar histórias... 

Me deu vontade de esmurrar o painel... 

Dar uma cabeçada no parabrisa... 

Chutar o pneu do carro... 

Como os malditos sortudos enfileirados não saiam da minha frente... 

Daí, aconteceu...

Um dos seguranças do Hotel abriu minha porta... 

E... 

Embarcaram os maquiadores e cabelereiros das misses... 

Quatro... 

Segurando frasqueiras prateadas... 

Me senti o motorista das Priscilas, Rainhas do Deserto...

Na época eu não sabia ainda que era hipertenso... 

Devo ter batido meu record de pressão arterial... 

Por estas e outras que não acredito em Deus... 

Por quê Ele teima em simplesmente providenciar um milagre às avessas toda hora? 

Como malandro enverga mas não quebra,  fingi que não havia percebido minha falta de sorte... 

Por dentro minha alma soluçava... 

Seguramente, foi a pior corrida da minha vida... 

Os outros carros passavam pelo meu e as misses mandavam beijos para os 'meus' bichas... 

Fui zoada da Glória à Barra... 

No final da corrida as misses ficaram com peninha da minha cara muxôxa.. 

Vieram me dar beijinhos e tirar fotos abraçadas... 

Foram se revezando num rodízio interminável de misses... 

Foi minha vingança... 

Deus farda mas não talha... 

Estou treinando exaustivo os oito passos bases do tango...

Antes de tudo acabar quero deixar para a posteridade minha performance registrada no YouTube...

Com direito a dar aquele rodopio na dama com a mão educada nas suas costas e segurá-la firme de encontro para ela conhecer a verdade...

Lógico, nesta hora a dona deve estar revirando os olhos e refazendo os cabelos para não desmaiar nos meus braços, lógico...

Me aguardem...




Jorge Schweitzer








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