domingo, 6 de abril de 2014

O dia em quase me tornei escritor da Editora Objetiva






Sou um sujeito que gosta de instalações performáticas...

Vou sempre testando para ver se rende uma crônica...

Ou para assistir que porcaria vai dar...

Já estive em batuques espíritas, cultos de exorcismos da Universal...

Tempos atrás...

Reuni várias crônicas e deixei na portaria da Editora Record em São Cristóvão e na  Objetiva, no Cosme Velho...

Na Editora Objetiva, a moça da recepção não me estranhou...

Fiquei curioso...

Pô, como é que pode:

Um maluco entra numa editora e se candidata sem ninguém achar nada demais é esquisito?

Como todos seres respirantes se acreditam escritores ou que sua vida simplória daria um livro eu quis saber dela se recebem muitos rascunhos...

Me mostrou uma sala atulhada, até o teto, de manuscritos jamais lidos pelos selecionadores...

- Caramba, não vou lhes importunar com mais um!

- Que nada, moço, vai que dá certo?!

O tempo passou...

Um ano e meio após, já nem lembrava da brincadeira...

Daí...

Recebi um email da Editora Objetiva...

Achei que fosse spam...

Já ia quase deletando...

Me informavam que eu havia sido aprovado na primeira avaliação e que aguardasse contato pois a fase seguinte seria o crivo da diretoria...

Queriam saber se eu já tinha contrato com outra editora; se já havia recebido algum valor antecipado;  se me importaria com retificações literárias...

Me deu vontade de dizer que por qualquer cem reais eu vendia tudo aquilo e meu blog inteiro...

Porém, não riam...

Pô, na boa...

Desculpem...

Me imaginei um Gabriel Garcia Marques brincalhão...

Neruda...

O Saramago recitando Bocage ...

No email existia um número de telefone...

Não liguei, evidente...

Devia ser alguém para me dar o troco da piada...

Mas...

Estava aflito com minha zoação...

Sentei na frente do imenso espelho da sala e ensaiei caras inteligentes que faria no Programa do Jô Soares...

Peguei, na escrivaninha, minha Mont Blanc falsificada e rabisquei todos meus livros da estante com  'abraço, com carinho, do seu amigo e escritor Jorge Schweitzer'...

Me senti na Cultura e Travessa explicando qual minha fórmula que desbancou do mercado o Coelho Paulo...

Lógico, lembrei igualmente de todas mademoiseles que teimaram em me rechaçar algum dia...

Eu daria o troco, agora...

Vingança se come pelas beiradas...

Faria uma seleção das gostosas, distribuiria senhas...

Na primeira página do Globo, em letras garrafais:

'O taxista que nos peitou ganha Nobel de Literatura'...

Daí...

Pôs bueno...

Daí...

Snif...

Temível silêncio da editora Objetiva, durante longos meses...

Até que...

Acho que por educação, me enviaram email...

'Seus textos são ótimos, não desista'...

Desisti...

Lógico...

Minha mente sempre registra anedotas que não devem ter capítulos subsequentes...

Piada é piada...

Se tentar explicar, perde a graça...

Agora, se eu fizer uma grande lambança me torno best-seller...

E...

Nunca se sabe?!

Estou avaliando a oportunidade...

Business is business...





Jorge Schweitzer









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