quinta-feira, 10 de julho de 2014

7 a 1: O Dia Seguinte






Dava impressão que aquilo não aconteceu no dia anterior...

As ruas já não possuem pessoas de verde-amarelo...

Bandeirolas estão sendo retiradas, carros já circulam sem nada adesivado de Brasil...

Somente argentinos, holandeses e alemães vestem a nossa camiseta tentando cooptar adesão de última hora...

Felipão ainda permanece on-line tentando se explicar para todos microfones que lhe enfiam no queixo...

É patético...

7 a 1 não necessita de tradução...

O outrora Felipão aguerrido nos convocando para trincheira cenográfica já não queremos escutar mais...

Engraçado lembrei de um amigo meu que morreu recentemente...

Já o citei diversas vezes por aqui, tanto quanto estava vivo quanto logo após...

Um grande amigo, o melhor...

Ele foi herói da II Guerra Mundial, comandou uma tropa de reconhecimento...

Sua missão era seguir  com seu pelotão na frente de todos detectando minas terrestres e mapeando o terreno para o resto da infantaria avançar em direção as montanhas da Itália...

Ele não gostava muito de contar sobre o que realizou com bravura mas existem registros em livros inclusive com fotos ilustrativas...

Por vezes eu conseguia que me confidenciasse algum episódio em nossos longos almoços no Restaurante da Carminha, antiga estação férrea de Cachoeiras de Macacu, entre bicadas de meia dose de Domeque e alguma carne de feijoada que lhe era proibida por médicos e eu fingia que não sabia...

Sua equipe era escolhida entre os melhores pelo alto grau de risco da tarefa....

Mas, na hora da execução do plano  alguns fraquejavam...

Na equipe tinha um telegrafista que levava aquela mochila com antenas que teve uma crise incontrolável ao ver um companheiro ter as duas pernas espatifadas por uma mina e entrar em choque e delírio ao ser injetado morfina...

O pavor contagiou todo pelotão, menos ele; ele não poderia jamais arranjar desculpas  para o risco iminente entre a vida e a morte...

Meu amigo teve que ele mesmo executar mapeamento da localização das bombas, andando por entre os artefatos e demarcando caminho seguro com barbantes...

Fiquei imaginando se o Felipão estivesse no lugar do meu amigo e saisse com esta que aquilo é simplesmente uma guerra e vida que segue...

Lembro que quando meu amigo estava doente quase no final o levei, junto com sua esposa, ao Hospital do Exército em Benfica e depois de ter que se identificar na entrada do hospital teve que aguardar um médico por horas e acabou perdendo sua boina de lã por lá...

Enviei email extenso para o Comando do Leste e para todos órgãos do Exército narrando a ocorrência tentando reaver a boina de estimação do meu amigo indignado por um herói do seu porte não ter soldado na porta da instituição batendo continência em reverência merecida...

Sua boina não foi encontrada e ele temeu que me mandassem prender e teria que me resgatar...

Rimos muito do episódio, mas o texto do email lhe deixou emocionado com minha homenagem que eu somente aguardava ocasião apropriada  para expressar ainda quando ele estivesse entre nós...

Ele mostrou para sua família inteira e guardou como um troféu junto as suas  medalhas de batalha...

Sua família toda estava em volta e eu podia escutá-los  quando leu meu recado e me telefonou: 

- Pô, Schweitzer, você quase me mata de emoção; obrigado, amigo!

Que nada, ele ainda durou mais algum tempo...

Herói é isto...

Tenho muito orgulho de ter compartilhado amizade com um herói de verdade...

Seleção não deve ser levado a sério...

Bem o disse o Felipão...

Aquilo é só um jogo de faz de conta que é guerra de verdade...

Sem nenhuma consequência na vida de quem quer que seja...

Se também considerarmos que vergonha na cara não é relevante, então?!

Se a seleção não se sente humilhada...

É porque são nada mesmo...

Vida que segue...


Jorge Schweitzer



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