sábado, 18 de abril de 2015

Nélida Piñon no Táxi em Movimento





Foi na noite de ontem, sexta-feira...

A escritora Nélida Piñon pegou meu táxi na Fonte da Saudade a caminho de Ipanema...

A reconheci de pronto mas aguardei ela puxar assunto para não importuná-la...

Ela havia esquecido o nome da rua mas disse que tinha um hotel na esquina da praia...

- É o Cizar?

Ela brinca:

- Tua pronúncia está perfeita!

- Na realidade Caesar com ae juntos em latim a gente pronuncia a; mas escutei tanto o Amaury Junior falando Cizar que adotei, ficou mais granfino...

- Sabe, motorista, que Caesar é também o nome de uma salada maravilhosa?

Contornamos a Lagoa Rodrigo de Freitas e fomos comentando sobre os peixes mortos que estavam sendo recolhidos pela Comlurb naquele instante...

Comentei que ninguém tem coragem de apontar mas o Jóquei Clube do Rio deve despejar material orgânico das suas cocheiras direto nas águas da lagoa, e não deve ser pouco, e que bastaria a prefeitura instalar sensores para detectar a irregularidade...

Nélida diz que se até na modesta casa dela existe sensor para tudo não há dificuldades...

- Olha, na boa, não acredito que uma escritora conhecida no mundo inteiro resida em casa modesta.. Se a senhora quiser conhecer casa modesta eu lhe dou carona até o Pavão...

Ela ri muito, fica surpresa em eu saber sua identidade e acaba concordando que tem uma residência muito boa...

Falamos sobre a morte do escritor Günter Grass nesta semana e relembro que outro acadêmico esteve três ou quatro vezes no meu táxi, o jornalista Luiz Paulo Horta; que por acaso era seu amigo pessoal...

Nélida me conta foi empossada na semana passada como titular da Cátedra José Bonifácio do Centro Ibero Americano da USP e quando foi conferir se eles haviam aberto sua conta salário para depositar o equivalente ao cargo descobriu que esquecerem deste detalhe deveras importante...

E, como não poderia perder a viagem, solicito que a escritora Nélida Piñon (que integrante e ex-presidente da ABL) me apresente ao também imortal José Sarney no próximo chá das seis...

- Olha, Jorge,  ele tem ido muito pouco as reuniões; a Dona Marly está muito doente... E, ele sempre foi de uma gentileza completa em todos nossos encontros...

- Por favor, não se deixe impressionar; Sarney é profissional...

- É...

- Só por curiosidade, o cargo de imortal é remunerado?

- A gente ganha um jeton por comparecimento...

- E, é uma remuneração bacana?

- É um valor  interessante;  alguns dos imortais que até contam com esta remuneração como subsistência...

- É bom fiscalizar se o Sarney não anda recebendo sem comparecer...

Nélida diz que possuo um ótimo e raro vocabulário que preferi não perguntar se isto a surpreendeu por se tratar de um taxista...

Brinco que gostaria de encontrar o Marimbondo de Fogo só para lhe dar um abraço tão forte que lhe proporcione ser inoculado pelo próprio veneno e perecer na hora...

Nélida me conta sobre suas constantes viagens internacionais para palestras e me jura que jamais foi  traída por ego inflado...

Antes de saltar ela comenta sobre o perigo da vaidade indevida de qualquer um  de nós em final de vida que pode macular uma biografia inteira apenas num simples ato falho...

Nélida no meu táxi é um desses presentes incomuns que o destino nos reserva...




Jorge Schweitzer









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